segunda-feira, 21 de abril de 2014



Rafael França       

Biografia

Rafael Luiz Zacher França. (Porto Alegre RS 1957 - Chicago, Estados Unidos 1991). Artista multimídia. Forma-se em artes plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e em 1985 torna-se mestre em artes pela The School of the Art Institute of Chicago. A partir de 1982, passa a viver alternadamente em São Paulo e Chicago, produzindo vídeos, instalações e trabalhos de curadoria nos dois locais e também em sua cidade natal. É também um gravurista talentoso e crítico de arte particularmente voltado para questões atuais da arte contemporânea, colaborando em várias revistas especializadas do Brasil e do exterior e também na organização de mostras de videoarte (por exemplo, mostra da 19ª Bienal Internacional de São Paulo, 1987). Tem uma obra videográfica das mais coerentes e sistemáticas de toda a arte eletrônica brasileira.

IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA
Talvez seja possível dizer que Without Fear of Vertigo (1987) ocupe um lugar estratégico em sua obra: nesse vídeo, o próprio França e vários amigos brasileiros e norte-americanos discutem as experiências do suicídio e do enfrentamento da morte, exatamente num momento em que a Aids começa vagarosamente a aparecer como um flagelo, um flagelo restrito (até aquele momento) à comunidade dos homossexuais.

França morre em 1991, vítima da Aids, depois de ter nos presenteado com um dos testemunhos mais autênticos de fidelidade a si próprio. Seu último vídeo, Prelúdio de uma Morte Anunciada (1991), terminado alguns dias antes de sua morte, é uma verdadeira celebração dos valores que norteiam sua vida e dos quais ele jamais abriu mão, nem mesmo nos momentos de maior agonia de sua doença. No vídeo, o próprio França troca carícias com seu companheiro Geraldo Rivello, enquanto aparecem na tela os nomes de todos os amigos brasileiros e norte-americanos que foram vitimados pela Aids e a trilha sonora deixa correr uma dilacerante interpretação de La Traviata pela soprano brasileira Bidu Sayão, gravada em 1943. A última coisa que aparece no vídeo é o texto: "Above all they had no fear of vertigo" (Apesar de tudo, eles não tiveram nenhum medo da vertigem), que claramente interliga Without a Prelúdio.

Um dos aspectos mais ricos da obra de Rafael França é justamente a experimentação de alternativas criativas para a ficção videográfica. Mas não se espere encontrar em seus vídeos narrativas clássicas, à maneira de uma certa literatura ou de um certo cinema, que nos habituaram com alguns modelos canônicos de ficção. As narrativas de França são totalmente experimentais, absolutamente elípticas e descontínuas, explorando coisas como o contraste dinâmico entre cortes muito rápidos e muito lentos, seqüências inteiras apresentadas quadro a quadro (como se fossem projeções de slides), faux raccords com planos seccionados em plena duração de uma frase, imagens fora de foco, ausência de sincronia entre som e imagem, diálogos apresentados de trás para a frente, uso de diferentes texturas de cores ou preto-e-branco, e assim por diante. O Silêncio Profundo das Coisas Mortas (1988), por exemplo, é uma história de amor e traição entre dois homens, onde presente e passado, realidade e memória, experiência e desejo são misturados de forma intrincada e contaminados ainda pela intromissão do social, do urbano (a cidade, o trânsito, o carnaval) na intimidade dos amantes. Reencontro (1984) parece uma interpretação moderna (ambientada nos duros tempos da ditadura militar, com referências explícitas a métodos de tortura) da parábola de William Wilson, célebre narrativa de Edgar Allan Poe sobre um personagem perseguido pelo seu alter ego e que termina se matando para fugir de si mesmo. Getting Out (1985) é uma narrativa tensa e claustrofóbica sobre uma mulher que simula a situação de estar trancada em casa num edifício que se incendeia.


Cronologia

EVENTOS SELECIONADOS
  • 1987 - São Paulo SP - 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
  • 1988 - São Paulo SP - Missões - 300 anos, a visão do artista, no Masp
  • 1997 - São Paulo SP - Precursor e Pioneiros Contemporâneos, no Paço das Artes

Obras Selecionadas

Referências
  • MISSÕES 300 anos: a visão do artista. Texto Lucio Costa et al. Porto Alegre: Iochpe, 1987. 35 p., il
  • Enciclopédia Itaú Cultural
                                                                                                                              Rosana Amaral

3 comentários:

  1. O artista deve ter sofrido muito preconceito nessa época.

    Fabiana.

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  2. Muito bom o artista, através da arte tecnologia conta da sua vida pessoal

    Janaina Silva

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  3. Muita coragem deste artista em lidar com a morte através do seu trabalho, principalmente pela época em que fez isso, quando a sociedade estava começando a saber sobre a AIDS. Verenice Teixeira

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